Peças: Meu tio o Iauaretê

O estúdio da Rádio CCSP é compartilhado com a Biblioteca Louis Braille na produção de audiolivros, feita por voluntários cadastrados. Por meio deste trabalho, pessoas com deficiência visual passam a ter acesso fácil a grandes autores e obras literárias. Nesta mesma direção, o radioteatro é ainda mais estimulante, inclusive para videntes (os que enxergam bem). Em setembro de 2013, a curadoria de rádio promoveu uma mostra de peças radiofônicas em comemoração ao Dia do Rádio – 25 de setembro -, fazendo parte também do projeto Acesso concreto – Setembro acessível. Publicamos agora a peça Meu tio o Iauaretê, de Guimarães Rosa, compartilhada pela Rádio Cultura FM com a Biblioteca Braille, para apresentação pública com entrada franca no dia 22 de setembro de 2013, durante evento da referida mostra.

Sobre Meu tio o Iauaretê
Iauaretê, jaguaretê, jaguar, do tupi yaware’te, quer dizer onça verdadeira. João Guimarães Rosa (1908-1967) publicou Meu tio o Iauaretê na Revista Senhor (RJ) em março de 1961. Posteriormente o conto foi incluído na antologia póstuma Estas Estórias, publicada em 1969.
“-Hum? Eh-eh… É. Nhor sim. Ã-hã, quer entrar, pode entrar… Hum, hum. Mecê sabia que eu moro aqui? Como é que sabia? Hum-hum… Eh. Nhor não, n’t, n’t… Cavalo seu é esse só? Ixe! Cavalo tá manco, aguado. Presta mais não. Axi… Pois sim. Hum, hum.Mecê enxergou este foguinho meu, de longe? É. A’pois. Mecê entra, cê pode ficar aqui.”
Interpretado na peça radiofônica por Lima Duarte, o onceiro (matador de onças) Beró narra diversas histórias de onça a um viajante desconhecido, enquanto toma cachaça. Mestiço de índio com branco, o personagem vai misturando em sua fala elementos do índio, do branco e do animal, enquanto revela sua admiração e gradual identificação com os felinos até, no final, se metamorfosear ele mesmo em onça.
“Foi uma trip proustiana, uma procura do tempo perdido”, conta Lima Duarte. “Eu me lembrei bem dos meus tempos de radioteatro, porque era eu, sozinho, fechado no estúdio, com o microfone na frente, e tendo que imaginar a onça, o onceiro, a selva, o mato, o Guimarães Rosa”.
Créditos
Adaptação para o rádio e direção: Sylvia Lohn
Sonoplastia, edição e montagem: Júlio de Paula
Músico (rabeca): Thomas Roher
Realização: Rádio Cultura FM
Foto: Emiliano Ramalho / Instituto Mamirauá


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